Pai: o caminho para o mundo – Constelação Familiar de Bert Hellinger

Olhe para seu pai e perceba: há um convite na sua mão estendida. Pais nos levam para o mundo, apresentam oportunidades, complementam nossa coragem quando necessário. Nos fazem seguir em frente.

Pais são nosso símbolo máximo de autoridade, e talvez por isso, muito incompreendidos e julgados, para que possam nos prover de segurança e disciplina.

Nos permitem crescer, mesmo que para isso arrisquem o papel de heróis, que nós filhos, tão infantis no nosso amor, desejamos.

Pais são heróis, mas não pelos motivos que acreditamos. Em tudo que fazem há uma disposição para cuidar, prover e ajudar a crescer. São heróis por suportarem o limite que precisamos, mas não queremos enfrentar. Se aceitarmos, teremos o melhor ambiente para crescer. Se não, a vida o fará com menos carinho.

Um pai e uma mãe

Há, com certeza, algo especial em como um pai e uma mãe se complementam. Seus papéis podem variar, mas não existe um pai sem haver uma mãe e vice-versa. A concepção precisa destes dois papéis.

Enquanto a mãe alimenta, o pai cuida da segurança. Num primeiro momento, o trabalho mais pesado é da mãe. É de quem o filho mais precisa nos primeiros anos.

Mas o tempo passa, e garantida a sobrevivência dos primeiros anos, será o pai que guiará o filho para o mundo, para a descoberta, para o vôo.

Pais são nossos referenciais para o masculino. Para um filho homem, é onde ele encontra a força para ser o que seu papel permite. Através da vivência com o pai, um garoto cresce e vive o que há de mais poderoso no mundo masculino, e aos poucos vai encontrando sua identidade e suas possibilidades.

O mesmo ocorre com a filha mulher, com a diferença que após os primeiros anos com a mãe, a filha deve ir para o pai, aprender a caminhar no mundo e então, voltar para a mãe, onde ela deve tomar todo o feminino que precisa para seguir adiante.

Nos dois casos, o pai é essencial para o bom desenvolvimento dos filhos e para que o movimento deles para o mundo seja realizado com sucesso.

O Pai, por Bert Hellinger

(trecho adaptado do material da Hellinger LebenSchule)

Dentro do sistema familiar, o homem e a mulher têm prioridades iguais. Eles criam a família juntos, eles são equivalentes.

Em relação aos filhos, o homem e a mulher são igualmente grandes. Porém é dentro da mãe que começa a vida. Dentro dela somos concebidos, dentro dela nós crescemos. Ela é tudo pra nós, com ela experienciamos a unidade, até que nascemos.

O que então ainda resta ao pai?

Bert Hellinger diz:

“Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo. As mães não podem fazê-lo. O amor dele não é cuidadoso nesta forma como é o amor da mãe. O Pai representa o espírito. Por isso o olhar do pai vai para a amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de uma área limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma amplitude diferente.”

Para ajudar a compreensão, descrevemos aqui uma imagem sugerida pela consteladora do Ipê Roxo, Maria Inês Araujo Garcia da Silva em um dos nossos cursos de formação. Ela disse:

“Para percebermos a diferença da forma como o pai e a mãe lidam com o filho basta imaginar um passeio com as crianças num parque, por exemplo. A mãe, preocupada e cuidadosa, a todo o tempo fala para o filho: ‘não suba na árvore’, ‘cuidado para não cair’, ‘não corra’… E sim, desta forma realiza com grande eficiência seu trabalho de cuidar dos filhos. O pai, ao contrário, ao chegar em um ambiente assim, verifica os possíveis riscos e se coloca de uma forma a preservar o filho longe deste lugar perigoso. Atento, o deixa livre para explorar.”

Essa liberdade é necessária para que o filho possa perceber o mundo, e mais tarde caminhar para a vida de forma completa.

Por isso o progresso vem principalmente do pai. Quando a mãe quer manter os filhos longe do pai, ela os mantém longe do progresso. O movimento vai através da mãe para o pai e através do pai para o mundo. Assim o filho fica completo.

E os pais que nos foram difíceis?

“Eu não consigo aceitá-lo.”

Não aceitar ao pai é não aceitar a sua realidade, o que já compõe você. Nós como filhos, temos dificuldades de encarar os pais como os seres humanos que são. Imaginamos e esperamos deles coisas que atravessam o limite do justo e possível.

O pai, dentro do sistema familiar, tem o papel da ordem, da rigidez e da autoridade. No mundo, temos uma dificuldade de compreensão com esse papeis. Quando este assunto entra em nossa casa, na figura de um homem do qual esperamos somente o amor idealizado na nossa mente, o conflito se instala.

Um bom caminho de volta aos braços do pai é ver o que verdadeiramente o move. O Amor escondido em atos de humanidade. É dar a ele o tamanho devido, não imaginário.

Hellinger nos instrui a deixar com os pais o que pertence ao destino deles, com tudo o que faz parte e tudo que faz falta. É necessário reconhecê-los como pessoas normais e comuns e que vieram de seus próprios emaranhamentos.

Aqui talvez valha olhar para si próprio e as dificuldades que não conseguimos resolver. Se estamos neste caminho de vida, em algum momento podemos nos tornar pai e mãe, e carregaremos para esta experiência o que nos compõe hoje, com todas as dores e amores. Nossos pais estiveram nesta mesma posição, por vezes influenciados por algo que não conseguiram escapar.

De uma coisa temos certeza: O filho que se alinha ao pai, idependente do destino que lhe coube, é mais apto e leve para seguir adiante. Com o tempo as peças se ajustam e o nosso caminhar prospera com ele no coração.

 

Carta de Bert Hellinger para seu pai

Como filhos, por vezes julgamos nosso pai como insuficiente, desejando coisas diferentes do que recebemos. Esse é um caminho duro para todo o sistema, onde todos sofrem e de certa forma, todos nós passamos por ele.

Por isso, colocamos abaixo a carta de Bert Hellilnger ao seu pai, onde ele fala que, como filho, já se colocou nesta posição de juiz do pai. Ao mesmo tempo, percebe o vazio que fica ao não ter seu pai no coração, e reconhece, como adulto, tudo o que não percebeu dos muitos presentes do seu pai durante a vida.

Identifique-se e leia com seu pai em mente, e sinta a alegria de reconhecer a gratidão que já está dentro de você, por vezes escondido por trás de algo interrompido. Filhos amam seus pais. E seus pais, como podemos ver todos os dias, estão completamente disponíveis para seus filhos, dentro do limite possível de cada um.

Querido papai,

Por muito tempo eu não soube o que me faltava mais intimamente.

Por muito tempo, querido papai, você foi expulso de meu coração.

Por muito tempo você foi um companheiro de caminho para quem eu não olhava, porque fixava meu olhar em algo maior, como me imaginava.

De repente, você voltou a mim, como de muito longe, porque minha mulher Sophie o invocou.

Ela viu você, e você me falou por meio dela.

Quando penso o quanto me coloquei muitas vezes acima de você, quanto medo também eu tinha de você, porque muitas vezes você me batia e me causava dores, e quão longe eu o expulsei de meu coração e tive de expulsá-lo, porque minha mãe se colocava entre nós; somente agora percebo como fiquei vazio e solitário, e como que separado da vida plena.

Porém, agora você voltou, como que de muito longe, para minha vida, de modo amoroso e com distanciamento, sem interferir em minha vida.

Agora começo a entender que foi por você que, dia a dia, nossa sobrevivência era assegurada sem que percebêssemos em nosso íntimo quanto amor você derramava sobre nós, sempre igual, sempre visando o nosso bem-estar e, não obstante, como que excluído de nossos corações.

Algumas vezes lhe dissemos como você foi um pai fantástico para nós?

Você foi cercado de solidão e, não obstante, permaneceu solícito e amoroso a serviço de nossa vida e de nosso futuro.

Nós tomávamos isso como algo natural, sem jamais honrar o que isso exigia de você.

Agora me vêm lágrimas, querido papai.

Eu me inclino diante de sua grandeza e tomo você em meu coração.

Tanto tempo você esteve como que excluído do meu coração.

Tão vazio ele estava sem você.

Também agora você permanece amigavelmente a uma certa distância de mim, sem esperar de mim algo que tire algo de sua grandeza e dignidade.

Você permanece o grande como meu pai, e tomo você e tudo que recebi de você, como seu filho querido.

Querido papai,

Seu Toni (assim eu era chamado em casa).”

Pai: o caminho para o mundo – Constelação Familiar de Bert Hellinger

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